Sunday, July 17, 2005

Imprensa em Portugal: reflexões, por Ayatollah Baloni

Domingo, 17 de Julho, 23:46. Dia de aniversário de David Hasselhoff (1952), dia da morte de Adam Smith em 1790. A 17 de Julho de 1955 abria a Disneyland em Annaheim, e em 1975 Timor Leste era anexado pela Indonésia. A 17 de Julho de 2005, o Grande Ayatollah abre o jornal Público Online e é alvo de mais um derrame cerebral, cuja consequência pode ler-se a seguir.

Abrir um jornal português é cada vez mais um acto de valentia. Julgo que o exército português devia introduzir este exercício básico no curso de Luso-Marines já a partir de 2006, para preparar os nossos jovens soldados para a arte de bem guerrear. Julgo, também, que o governo devia impedir a compra de jornais por jovens menores de 18 anos quando não acompanhados por um maior, e não seria demais a impressão da bola vermelha no canto superior direito da capa, com a respectiva advertência.

Publico os 6 títulos de hoje:

Mahmoud Abbas promete fazer cessar ataques contra israelitas
Incendio em Espanha mata 14 pessoas
Benfica perde frente ao Chelsea por 1-0
Marques Mendes diz que Governo traiu cinco promessas em cinco meses
Quatro ataques suicidas fazem 22 mortos no Iraque
Jardim ameaça levar Governo a Tribunal por faltar a compromissos

Lendo todos os títulos, pergunto-me... não é possível apresentar a notícia de uma forma menos impetuosa, sem ferir os sentimentos de 6 milhões de portugueses? É que estamos a falar de 60% da população portuguesa, gente com expectativas, trabalhadora, honrada e respeituosa. Porque não escrevem: “Golo de Ricardo Rocha não foi suficiente para conseguir a vitória” ou, simplesmente, “Golo de R. Rocha não chegou para humilhar o Chelsea”. Duas linhas abaixo, no entanto, escreve-se: “Quatro ataques suicidas fazem 22 mortos no Iraque”. Porquê esta diferença na forma de apresentar a notícia? Se se tivesse utilizado um tom idêntico ao da notícia do Benfica, teríamos mais ou menos isto: “Quatro ataques suicidas fazem 22 mortos no Iraque, com os seus orgãos a serem espalhados num raio de 398 kilómetros, com 2 testemunhas sírias a garantir terem visto passar 6 rins perseguidos por 8 olhos voadores. O governo iraquiano já pediu aos cidadãos que não utilizem os orgãos para cozinhar, pois serão essenciais na identificação dos corpos”. Claro que a notícia acabou por ser dada de uma forma mais ponderada, menos sensacionalista. E em Espanha, dizem apenas que 14 pessoas morreram no incêndio? Não faltam dados? E porque faltou à verdade o Governo quer com o Marques Mendes quer com o Beduíno Jardim? Não faltam dados? Há famílias destroçadas, casamentos em perigo? São dados que faltam!
Porquê esta diferença de critérios? Não deveria o jornal ser guiado pelos valores da coerência e igualdade no tratamento das notícias? São perguntas que ficam no ar, esperando não serem atingidas por uma orelha de um iraquiano em vôo descontrolado.