The Ayatollah representing the city
Como saberá o leitor (os 2 ou 3 que lêem este espaço de criatividade e ócio) eu sou um artista moderno, radicado num local onde as palmeiras abundam e a humidade espalha o caos. Regressei para férias ao meu belo Porto, que por azar não me viu nascer, mas que me ajudou a crescer e a transformar-me neste abcesso desprovido de cérebro que hoje sou. Já viajei muito e conheço alguns lugares por esse mundo fora, e a cada dia que passa acredito que nada se pode comparar à Invicta em termos de autenticidade. E isso passa pelas pessoas e pela cidade propriamente dita.
Por outro lado, nós portugueses sempre tivemos uma tendência em orientar o comportamento e decisões com base no que se passava no estrangeiro, nas grandes nações para lá da pátria. Sempre ficamos fascinados com o que se passa lá fora, e esquecemos aquilo que temos. Quase sempre nos rebaixamos perante o que vem de fora, e despontam os sentimentos de vergonha pelo que temos e de inveja pelo que gostariamos de ter. Valorizamos muito mais o Parecer do que o Ser.
Hoje em dia, a chegada ao Porto é exemplo disso. Ao sair do avião, qualquer um dá de caras com um aeroporto bastante elegante e muito bonito visualmente, que revela por si só que houve mão de artista no seu desenho e projecção, e portanto, gastos elevados associados. Entremos então nas instalações... ok ok. Percebemos imediatamente que na sua essência nada mudou. O esqueleto do aeroporto è essencialmente o mesmo, o modus operandi entediosamente igual. A desorganização impera, e para o português é esse aspecto um mero detalhe rapidamente esquecido no meio de tanta beleza. O parque de estacionamento é gigantesco, mas igualmente confuso. As obras teimam em não acabar. Temos, enfim, um aeroporto profundamente desadequado áquilo que realmente precisamos, e que no fundo reflecte tudo aquilo que somos ou queremos ser: um grande peixe num pequeno charco. Fazemo-nos depender demasiado da sorte, como única forma de evitarmos os problemas. Somos ainda racionais irreflectidos, mas caminhando perigosamente para a irracionalidade. Não pensamos as coisas previamente, tentando resolver os problemas quando estes surjam. Somos irritavelmente estúpidos.
Fazemos corridas de carro (que paixão temos nós pelo elitismo e pela afirmação e distanciamento sociais), o que implicou elevados custos de remodelação de estradas e outras infra-estruturas, construimos edifícios antes mesmo de pensarmos a sua função (multi-usos do Castelo do Queijo), etc etc etc.... somos uns meninos mimados, que vamos gastando o pouco que temos em coisas que realmente não interessam, que apenas nos trazem felicidade por 2 ou 3 segundos, como o Carnaval Brasileiro. E agora, não temos dinheiro para investir no que realmente temos de belo, de genuíno e de património... aquilo que nos faz realmente belos, especiais e invictos. Aquilo que faz os turistas visitarem a cidade. Temos que pensar mais no que temos, no que identifica o Porto, no que lhe dá carácter e unicidade, e fugir a esta coisa de nos enganarmos a nós próprios tentanto imitar a glória do alheio. O Mercado do Bolhão é um dos pulmões da minha cidade, e tem que ser cuidado, mantendo a sua tradição e a sua gente. Vivamos com o que temos e sejamos o que somos.
Se há algo que me repugna é a decepção, e este espírito de parecer apenas leva a esse caminho.
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