Tuesday, September 13, 2005

Phi-Phi was alright

Os leitores mais fiéis sabem com certeza que o meu destino de férias foi as ilhas Phi-Phi. Não foi segredo nenhum. Mas o que me levou até lá?

Este é Uzzid, fotógrafo palestiniano das Brigadas do Reverendo Anastid Al-Jibang, um pequeno grupo malfeitor que reúne uns míseros 5 fiéis. São do mais fanático que o Islão pode gerar.
A foto? Ilhas Phi-Phi, em pleno tsunami. Uzzid foi apanhado em plenas férias de inverno, enquanto trabalhava o seu "Uzzistroika", um livro de relatos e estórias pessoais melindrosas.
Conheci Uzzid por mero acaso, numa das minhas passagens por Beirut. Um daqueles momentos que juntam 2 vidas que até aí nunca se haviam cruzado, mas que desse instante em diante passam a tocar-se ao largo do tempo. Não me perderei em explicações sobre como o conheci... não interessa absolutamente. Apenas que a meados de Maio esta foto me foi endereçada por um anónimo, e percebi que Uzzid estava em apuros. De todas as formas, esperei por Agosto para iniciar a viagem, aproveitando os preços mais baixos. Achei que Uzzid podia esperar até então.

Percorri todo o território tailandês em busca de Uzzid. Planícies, vales e planaltos, selva, pântanos e arrozais, aldeias, vilas e cidades. Avistei animais perigosos, tribos nómadas e contactei com povoações perdidas nas entranhas das mais densas selvas. Presenciei o medo como nunca antes havia sucedido, e senti o misterioso odor da morte. Quase me tocou, mas ao último instante retraiu-se e deixou-me a sós com a vida. Passei dificuldades, a fome percorreu o meu ser e contraí as mais debilitantes doenças:
amebíases, tricuríases, peste bubónica, Dengue e febre amarela.

Conheci um sábio numa dessas aldeias isoladas, um verdadeiro sábio. Alguém que na sua humildade se diz um mero servo da Natureza, um aprendiz da floresta. Nunca passou para lá dessas densas selvas, onde diz que a Natureza acaba e a cruel Humanidade começa. Apesar de nunca ter visto uma cidade, é capaz de descrevê-la com uma invejável clarividência. Recordo palavras como o monstro submerso ou o inimigo invisível. Perguntei se havia visto Uzzid, ao qual me respondeu: "Uzzid, o inocente guerreiro da fabricada guerra pelo ouro negro? Vi a sua sombra num dia em que o mar fez avançar as suas águas sobre a terra seca. Mas nesse mesmo instante, a sombra foi levada pela negridão da morte, fazendo a sua alma descansar no limbo sagrado da Mãe Natureza". E assim, com estas palavras mágicas, o Sábio (nunca percebi bem o seu nome tribal, pelo que prefiro chamá-lo de Sábio) fez a minha missão chegar ao fim. As suas longas e entrelaçadas barbas brancas transmitiam-me a confiança necessária para acreditar na sua visão. Não ousei questioná-lo, e assim ficámos os 2 o resto do dia, trocando ideias sobre o mundo, fumando ópio e comendo bolacha maria que havia levado comigo.

Esta foto, conseguida dias antes da partida, fez-me repensar tudo o que tinha então como garantido a respeito do infortúnio de Uzzid. Este homem, com escoriações várias e escaras dignas de relato num qualquer episódio bíblico, podia perfeitamente ser Uzzid. Contudo, um zig-zag mental conduziu-me a um canto da memória que me informou que Uzzid não usava roupa interior branca, pois dizia que obrigava a um número de lavagens exagerado:
1- manchas de urina eram mais facilmente detectáveis
2- é côr de fralda
3- na família o branco dizia-se côr de marica
4- o branco reflecte todo o espectro luminoso, pelo que implica perda de concentração calorífica e eventualmente da luz divina

E assim, de consciência tranquila uma vez mais, deixei-me ficar por Bangkok gozando os 2 últimos dias de férias na zona mais atractiva da cidade: a zona das criancinhas. Estas são as minhas 2 mais recentes amiguinhas, Li Uan e Cindy Huam.